Embora conservem uma boa quantidade de elementos religiosos da Igreja Católica, os anglicanos não têm a Confissão como um sacramento. Para eles, trata-se apenas de uma prática devocional ou espiritual, bastante em desuso. Mesmo assim, o arcebispo Welby, vindo de uma corrente evangélica do anglicanismo, possui um padre católico como diretor espiritual, além de ser um forte defensor das formas de adoração pregadas pelo catolicismo.
Falando da pertença a uma ampla "tradição católica", Welby comentou: "Eu tenho aprendido ao longo dos últimos 10 anos sobre o grande sacramento da reconciliação: a confissão. (...) Ele é bastante eficaz e terrivelmente doloroso quando feito corretamente... Eu duvido que você acorde de manhã e pense que isto venha a ser um monte de risos. (...) É realmente incômodo. Mas, por meio dele, Deus oferece o perdão, a absolvição e um senso de purificação".
O prelado anglicano não é o primeiro e nem será o último não católico a reconhecer a grandeza do sacramento da Penitência. Ainda no século XIX, o famoso escritor brasileiro Machado de Assis, que muitos estudiosos consideram como ateu, não escondia sua admiração por este tesouro católico. Em algumas de suas memórias, ele confidenciava: "A Igreja estabeleceu no confessionário um cartório seguro, e na confissão o mais autêntico dos instrumentos para o ajuste de contas morais entre o homem e Deus". E ainda: "A Igreja recomenda a confissão, ao menos, uma vez cada ano. Esta prática, além das suas virtudes espirituais, é útil ao homem, porque o obriga a um exame de consciência"01.
É notável ver personalidades estranhas à fé católica reconhecendo a utilidade da Penitência. Mas, e os católicos? Qual é o valor que têm dado a esta dádiva?
Urge que se desmascare, antes de qualquer coisa, uma mentira repetida com frequência. O sacramento da Confissão não foi, como querem alguns detratores da Igreja, uma "estratégia" dos padres para manter os seculares subordinados aos interesses eclesiásticos. Trata-se, na verdade, de um desejo do próprio Jesus. Após a Ressurreição, ele apareceu aos Doze e disse: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20, 22-23).
Muitos católicos deixam de recorrer à Confissão porque já introjetaram uma mentalidade protestante individualista e orgulhosa. Dizem: "Se Deus já conhece todos os nossos pecados, por que se confessar?" Ora, Deus, em sua onipotência, poderia muito bem ter feito de outra forma. Poderia ter dito à multidão que se confessasse a si mesma, ou que apenas invocasse o Seu nome e seus pecados seriam perdoados. No entanto, não foi desta forma que Ele quis que os homens buscassem a reconciliação Consigo. Ele deu aos apóstolos as chaves do Reino dos céus (cf. Mt 18, 18) e este encargo sagrado. Cabe a nós acolher com humildade as disposições divinas, ao invés de submeter as palavras sagradas ao nosso arbítrio.
É verdade, nem sempre é agradável ter que acusar os pecados a um sacerdote, os católicos não dirigem-se ao confessionário com um "monte de risos". No entanto, diz a Escritura, "há uma vergonha que conduz ao pecado e uma vergonha que atrai glória e graça" (Eclo 4, 25). Ainda que muitas vezes pareça penoso, é preciso que o cristão vença a sua vergonha e se confesse, pois de outro modo não pode alcançar o perdão dos pecados e a tranquilidade da alma.
Conta-se que um discípulo de Sócrates tinha entrado na casa de uma mulher de má vida. Prestes a sair, mas avistando o mestre, que ali passava, ele tornou a entrar na casa, a fim de não ser notado. Sócrates, porém, tinha-o visto e, aproximando-se da casa, disse: Meu filho, é uma vergonha entrar nesta casa, não, porém, sair dela.
Santo Afonso de Ligório repete a advertência de Sócrates e alerta: "Meu filho, é uma vergonha cometer o pecado; não, porém, libertar-se dele pela confissão".
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