Ao vermos a fumaça
branca saindo da chaminé mais famosa do mundo, a de um Conclave, adicionado ao
repique festivo dos sinos da majestosa Basílica que abriga o corpo daquele que
foi o primeiro Vigário de Cristo, o Apóstolo Pedro, ao tempo em que contemplávamos
rostos, gritos de toda uma catolicidade à espera do seu pastor universal, a
Doce Presença de Cristo sobre a Terra, arrepiávamo-nos de emoção ao saber que o
novo Romano Pontífice já estava eleito e confirmado. Sim, eleito e confirmado:
eleito pelo Sacro Colégio Cardinalício, mas confirmado pelo Senhor através do
Seu Espírito Santo, já que Deus, em seu desígnio eterno, já havia escolhido
aquele a quem confiaria o seu redil, tal como aconteceu com Simão, que mais
cedo havia se tornado Pedro por mandato divino, o ‘Pedro Apóstolo, Príncipe dos
Apóstolos’ (PAPA), quando inquirido por seu Mestre: “Simon
Ioannis, amas me? […] Pasce oves meas” – Simão, filho de João, tu me
amas? Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21,17).
E, depois de aproximadamente uma hora, exatamente às 20
horas e 12 minutos (horário local), enquanto a noite avançava gélida na ‘Cidade
Lustrada pelo sangue dos Hérois de Cristo’, a ‘Cidade Eterna’, Roma, abrem-se,
na sacada principal da Basílica, as janelas e as cortinas que privavam o balcão
dos olhos ansiosos do mundo. E, mediante aplausos e brados de “Viva il Papa!”, aparece um pregoeiro
que, com um corpo carcomido pelos anos, é portador de voz rouca e trêmula,
quiçá fosse, além dos seus janeiros, por conta do misto entre o júbilo e a
grandiosidade da notícia a ser divulgada: “Annuntio vobis
gaudium magnum: habemus Papam! Eminentissimum ac reverendissimum dominum,
dominum, Georgium Marium Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Bergoglio, qui sibi nomen imposuit Franciscum”
Era a rumor cálido que cortava o frio sentido pela multidão, era a frase que
todos desejávamos escutar; palavras ansiadas e previstas para o cardeal
francês, Jean-Louis Tauran. O eleito, um jesuíta, cardeal Jorge Mario Bergoglio,
de 76 anos, até então Arcebispo de Buenos Aires. Logo, um ‘hermano nuestro’. A turba foi aos aplausos.
Quando o relógio de São Pedro cravava ponteiros em 20h23min,
aparece o mais esperado argentino da história, os fiéis acolheram-no com festa.
Francisco, mas que nome diferente para um papa? E, com a sua primeira aparição
e fala, entendemos o porquê, ou pelo menos supomo-lo: o Bispo de Roma se nos
vem apenas com uma sotaina branca, e, com o seu pronunciamento afável,
entrevemos a humildade de São Francisco de Assis e o seu espírito de reformador
da Igreja (“Francisco, reconstrói a minha Igreja!”, tal como ouvira o
‘pobrezinho de Assis’ no século XIII), mas não olvidamos de outro exemplo de
santidade que, com o mesmo onomástico, também marcou a História da Igreja, o
também jesuíta São Francisco Xavier, um grande missionário, desbravador de
terras longínquas em prol do Evangelho, que viveu no século XVI: “Irmãos e Irmãs, boa
noite! Vocês sabem que o dever do Conclave era de dar um Bispo a Roma. Parece
que meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase no fim do mundo. Mas, estamos
aqui! Agradeço-vos pela acolhida da comunidade diocesana ao seu Bispo. Obrigado! Antes
de tudo, gostaria de fazer uma oração pelo nosso Bispo Emérito Bento XVI . Rezemos todos juntos por ele, para que
Deus o abençoe e Nossa senhora o proteja. E
agora comecemos este caminho: Bispo e povo, povo e Bispo. Este é o caminho da
Igreja de Roma que é aquela que precede na caridade todas as outras Igrejas. Um
caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós. Rezemos sempre por
nós, um pelo outro, rezemos por todo o mundo, para que exista uma grande
fraternidade. Desejo que este caminho da Igreja, que hoje começamos e que me
ajudará o meu Cardeal Vigário aqui presente, seja frutuoso para a evangelização
desta tão bela cidade. E agora gostaria
de dar uma bênção, mas antes vos peço um favor: antes de o Bispo abençoar o
povo, peço que vocês rezem ao Senhor para que me abençoe. A oração do povo
pedindo a bênção pelo seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração de vocês por
mim!”. Sendo sempre interrompido pelos aplausos.
Pois eis que o
Espírito Santo, o grande artífice de toda a caminhada da Igreja, nos reservou
uma grande surpresa, excelente, mas surpresa. Não nos cabe um juízo
precipitado, ou mesmo enquadrarmos o 266º Vigário de Cristo em alas conformes
aos padrões teológicos delineados ao bel-prazer de outrem. É a novidade do
Paráclito! Esta é, como bem frisou Sua Santidade, uma página nova que se abre
no livro da vida da Igreja. E “os filhos das trevas” já começam a traquinar contra
o novo guia do leme da Barca de Pedro, isto é, da Igreja. Quanto a nós, “filhos
da luz”, bastam-nos o grave e honroso deveres de rogar ao Senhor que abençoe o
escolhido para apascentar as ovelhas de Cristo, o nosso já amado Papa: “Deus, Pastor e guia de todos os fiéis, olhai
com bondade para o vosso servo o Papa Francisco, a quem pusestes como Pastor de
vossa Igreja. Concedei-lhe que guie suas ovelhas com a palavra e o exemplo e,
assim, ele e o rebanho alcancem a vida eterna. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!”